E se nós desistíssemos de todos nossos sonhos por causa do medo do fracasso?
“Uma verdadeira perdedora é alguém que tem tanto medo de não vencer que nem sequer tenta.”
– Pequena Miss Sunshine (2006)O filme de 2006 dos diretores Valerie Faris e Jonathan Dayton nos trás uma perspectiva de uma família disfuncional em meio a uma viagem pela California para realizar o sonho da pequena Olive, ganhar o concurso de pequena miss sunshine.
Mas a confusa família enfrenta diversos dilemas de superação, aceitação e frustração que nos fazem refletir sobre nossos próprios problemas.
O filme começa de maneira certamente cômica, apresentando uma família totalmente desequilibrada com um novo desafio a cumprir, mas ao olhar com outros olhos, a lição que o filme passa é capaz de comover qualquer um. E a ideia do fracasso se prende durante todo o desenrolar da obra. Tanto para Olive que tem medo de não ganhar o concurso, quanto para seu pai Richard que despreza o fracasso como ninguém, quanto para seu irmão Dwayne que teme não entrar para a aeronáutica, quanto para seu tio Frank que ja fracassou tanto que não via mais rumo em sua vida, quanto para sua mãe que só quer manter a família unida, até mesmo o avô que nem sequer acredita em fracassar.
Mas você ja parou para pensar em quantas vezes pensou em desistir , ou nem sequer tentar algo novo pelo medo de não conseguir? Pelo medo de ser julgado? Não se sinta sozinho nessa, é natural do ser humano temer o novo, a rejeição. Mas quantos sonhos são despedaçados por esse medo?
O próprio filme exemplifica como o fracasso não é só inevitável como necessário. No exato momento em que tudo parece dar errado, é quando a chave vira e a percepção de que tudo o que aconteceu não poderia ser evitado, mas consertado. A morte de um familiar, a descoberta que acabou com um sonho e um atraso que poderia acabar com outro, tantos fatores propensos a acabar com a vida dessa família e trazer a desistência a tona, mas que ensinaram que nada que vem na vida vai ser fácil, o fracasso vai te acompanhar desde a primeira nota 5 no fundamental até o erro fatal que pode mandar seu cliente para a cadeia durante um tribunal, e não é por causa de nada disso que a vida terá um fim, apenas mais um chance de recomeçar, e depois mais outra, e outra, e outra…
O final do filme se mostra como um abraço de consolo a qualquer um que se emocionou até o momento. Ver aquela família que parecia que nunca iria se apoiar mais do que o necessário, toda reunida em cima de um palco ao som de Super Freak sem se importar com tantos julgamentos, olhares maldosos e desconfortáveis, apenas abraçando o fato de que eles são aquilo ali, com problemas, com medos, e com muitos fracassos, mas apesar de tudo o que aconteceu ainda conseguem sorrir, conseguem olhar para traz e dizer que deu certo (em partes talvez), conseguem entender que a vida não é sobre vencer, mas sim sobre tentar.
E o medo?
O medo muitas vezes surge da crença de que o fracasso define o valor de uma pessoa. Isso pode ser observado em Richard, que se preocupa tanto em manter as aparências excepcionais que não consegue aproveitar o momento, trazendo uma crítica direta a sociedade atual que prefere manter os padrões e evitar constrangimentos do que se aventurar no novo e acumular memórias.
O medo cria uma barreira quase impenetrável para o novo, Frank e Dwayne são exemplos vivos disso. O tio que ja fracassou tanto em vida que não se vê “bom o suficiente” e nem digno de sucesso, preferindo então desistir da vida de uma vez do que tentar de novo e fracassar mais uma vez, ja o adolescente rebelde que decide escolher o silêncio como solução para seus problemas vê um escape de julgamentos, se não expressar aquilo que guarda dentro de si. Mas ambas ideologias seguidas pelos personagens são rompidas quando a vida decide que as coisas devem mudar, e quando essas barreiras caem, a vontade de se reerguer sobe.
Ao decorrer do filme vemos Dwayne lendo obras de Nietzsche, um grande aliado a ideia de fracasso como elemento crucial para a superação e crescimento pessoal. Em seu livro Assim falou Zaratustra, a ideia de Übermensch (Super-homem) mostra um indivíduo que transcende seus próprios limites pelo enfrentamento de desafios. Para o mesmo, o fracasso é necessário para compreender seus erros e aceitar suas consequências, e então evoluir com eles
O filme ensina que o medo de tentar pode ser mais destrutivo do que o próprio fracasso, e ao desenrolar da trama, novas visões de transformação e mudança alcançam os personagens, permitindo a desconstrução de ideais medrosas e reafirmando novamente a real mensagem do filme, desmitificar a ideia de que a vida é uma competição mas sim uma sucessão de erros e tentativas.
Publicação: 22/11/2024