A Arte assemelha a vida

Se você é um amante tão fiel do cinema, da arte, da música e da vida, você acaba de achar seu lugar.

Past lives

“In -Yun” Quantas vidas ja vividas com um toque?


Quantas vezes você ja passou por uma pessoa e com um simples esbarrão, uma troca de olhares, um doce bom dia ou até mesmo um palavrão que foi jogado pela janela de um carro, não parou um instante e pensou “eu provavelmente nunca vou nem saber o nome dessa pessoa” mas, se você acredita em vidas passadas, isso pode ser diferente.

E é sobre isso que a obra “Past Lives” irá se aprofundar. O filme de estreia da dramaturga Celine Song, aborda a conexão de vidas passadas, em outras palavras, o destino. Ao acompanhar a trajetória de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), o constante sentimento da nostalgia e da idealização de uma vida totalmente diferente te perseguem do inicio ao fim, e quando o filme acaba as perguntas de “é isso?” ou “e se?..” tornam-se avassaladoras na cabeça do espectador, saber que a protagonista poderia ter tido outra vida totalmente diferente com uma pessoa totalmente diferente é inconformante. E é isso que transforma o filme em um recurso tão tocante a quem o vê, o fato de facilmente conseguir se colocar no lugar de Nora e até mesmo no de Hae Sung.

Quando se pensa que na vida tudo o que procuramos é alguém que fique, o filme faz ainda mais sentido.

Essa constante tentativa de se reconectar com algo do passado, ou algo que você simplesmente sabe que parece certo te consome. Em muitos casos você pode ser a pessoa que ficou na vida de alguém mas também a que resolver ir embora, e então mais e mais “e se?” nascem em seus pensamentos.

“In Yun” – Nossas mil vidas

Em um dialogo no filme, Nora explica esse conceito de destino. “In Yun” é um termo coreano que dificilmente pode ser traduzido em poucas palavras, mas basicamente explica como todas as pessoas que já encontramos nessa vida, ja fizeram parte de outras passadas e farão parte de todas as suas próximas, seja se for um forte laço familiar ou apenas um estranho que te esbarrou na rua. A filosofia por trás desse conceito mostra como nossa vida é tecida por encontros e desencontros predestinados, similar a proposta filosófica do Alemão Gottfried Leibniz que sugere a existência de múltiplas realidades ocasionadas por diferentes escolhas.

E o mais bizarro é pensar que talvez em outra vida você tenha alcançado as 8 mil camadas de In Yun e então se casou com o amor da sua vida, mas nesta vida esse alguém foi apenas um babaca que passou correndo e derrubou seu café na sua camisa branca. Talvez você tenha tido uma melhor amiga que agora foi apenas a garota que te elogiou num banheiro de festa. Se formos para o lado mais fantasioso podemos pensar até mesmo no enorme conceito de multiverso que a Marvel nos entregou, ja imaginou uma vida que a Mary Jane e o Peter foram apenas colegas de sala, nada mais. Ainda acho mais doido pensar no que não aconteceu, por exemplo, “será que aquele caminho que eu não peguei teria mudado meu dia?” ou “será que aquele bom dia que eu não respondi foi uma má escolha?”, para muitos é baboseira e não tem nada haver se você saiu ou não de casa 5 minutos mais cedo, para outros, mil e uma oportunidades se foram em um milésimo.

Uma vida de “E se?”

"E se eu não passar?"
"E se ele não voltar?"
"E se der errado?"

“Será que vale a pena viver pensando no que minha vida poderia ter se tornado por causa de um passo errado?”

Tantas perguntas e nenhuma resposta, infelizmente (ou felizmente) não podemos prever o que será da nossa vida em cinco, dez ou vinte anos. Não podemos controlar quem entra nem quem sai de nossas vidas e muito menos saber o que teria sido de mim se aquela maldita prova não tivesse sido tão péssima. A sensação da ilusão e falsa esperança de que a vida seria diferente por causa de um simples “sim ou não” causa um conforto familiar, no qual é mais fácil se apoiar, muito mais fácil do que olhar para frente e pensar “essa é minha vida, e que bom que esta assim”, mas é claro que todo ser humano pensa no que ele deveria ter se tornado, e não o que realmente é (e ninguém pode nos julgar).

Mas a resposta mais aceitável que podemos assumir como verdadeira é de que não importa o que esta acontecendo agora, antes ou depois, o arrependimento sempre vai estar lá, então deve ser mais fácil lidar com a vida sabendo que algum dia tudo vai mudar mesmo e tentar colecionar o máximo de In Yun, e rezar para que na próxima vida, aquela pessoa tão especial seja o “e se” mais valioso.

Publicação: 24/11/2024